Eu sempre disse a mim mesma que não ficaria em Recife para sempre e não porque eu acho que Recife seja um mau lugar. Só tinha a clareza de que era um lugar que não combinava comigo, mesmo tendo nascido e sido criada nessa cidade.
Mudar meu local de atendimento foi uma decisão muito mais pensando na minha vida pessoal do que na minha vida profissional. Na verdade, foi uma decisão tomada pensando em mim como todo, já que não tem como me separar na metade.
Analisando alguns fatores, eu e minha família escolhemos que faríamos o teste de morar em Aldeia! Hoje eu enxergo foi uma decisão que foi sendo amadurecida por bastante tempo e quando chegou na hora de se concretizar, pareceu bem rápida!
Para quem não me conhece, sou Psicóloga clínica infantil e atendia no Recife desde 2014. Recentemente decidi me mudar para uma cidade vizinha, não é tão longe mas inviabilizaria os meus clientes continuarem os processos comigo por causa da distância e principalmente do trânsito.
Eu acredito que ser autônomo, como tudo nessa vida, tem vantagens e desvantagens. Uma das coisas que eu posso escolher é morar perto de onde eu atendo e atender perto de onde eu moro. Eu sempre quis ter meu trabalho perto da minha casa então a decisão primeira foi de fato de onde morar.
Depois da minha família, as primeiras pessoas para quem eu contei da mudança foi para os meus pacientes. Eu acharia muito desrespeitoso da minha parte se eles soubessem por outra pessoa que não fosse por mim.
Eu fechei a mudança em dezembro de 2018, mas estabeleci um prazo de três meses para fechar de fato o consultório de Recife. Então, em dezembro mesmo eu já avisei a todos e só fechei o consultório no final de março do ano seguinte!
Primeiro eu contei aos responsáveis que a mudança iria acontecer e o prazo máximo que eu tinha. Cada um optou por uma decisão singular. Só a partir dessa decisão é que eu conversava com as crianças. Foi assim, que eu contei a todos. Em seguida, eu avisei as respectivas escolas.
Cada um obviamente teve um fechamento singular. Vamos a todos os caminhos que foram tomados:
1. Quando eu avisei da mudança, já estavam em final de processo e foi possível fechar com tranquilidade.
2. Alguns quiseram (a criança e a família) experimentar ficar sem psicoterapia, mas já deixei o nome de um outro profissional para o caso de querer retomar.
3. Alguns tive que encaminhar para profissionais de outras áreas porque fazia mais sentido naquele momento e novamente deixei o nome de um novo profissional da psicologia para o caso de ser necessário retomar depois.
4. Alguns deram continuidade com profissionais escolhidos pela família.
5. Alguns ainda almejaram continuar comigo mesmo em Aldeia.
Sem dúvida nenhuma a minha maior dificuldade na minha mudança foi interromper alguns processos por uma decisão minha. Mas são as escolhas que nós fazemos na vida. Fiz meu melhor por todos eles até o último dia e me coloquei à disposição para trocar com todos os profissionais que fossem os acompanhar.
De fato não foi fácil! Eu vinha solidificando meu lugar como psicóloga infantil há alguns anos no Recife e como consequência do meu empenho, eu vinha tendo um retorno financeiro satisfatório para meu estilo de vida.
Mudar meu local de atendimento realmente fez com que eu tivesse que reconstruir uma rede de encaminhamentos e alcançar um número de clientes que volte a cobrir meu novo estilo de vida.
Realmente não foi fácil, mas muitas vezes ao longo da vida é preciso se fazer escolhas que estejam compatíveis com o que você acredita e essa mudança, sem dúvidas, foi uma delas. Com isso não estou apoiando ninguém a jogar tudo para o alto.
Ao contrário, a minha sugestão é que você tenha uma organização financeira mesmo que não tenha nenhuma mudança (de qualquer espécie) em vista! Não é à toa que eu criei o curso de organização financeira para psicólogos clínicos, eu consigo me organizar e ter uma reserva, entendendo que a vida de um autônomo sempre está sujeita a instabilidades.
Primeiramente eu fui atrás de alguma sala que eu pudesse sublocar. Como minha mudança se tratava de um teste e já tinha uma sala montada no Recife, achei bem mais viável financeiramente sublocar algum lugar, mas infelizmente não consegui!
O fato de eu atender criança, que já me exige uma sala compatível com o esse público, eu tive mesmo dificuldade de encontrar salas com horários disponíveis. Quando percebi que não conseguiria, tive que ir atrás de salas para alugar. Quando eu pensava em montar uma sala de novo chega me batia um frio na barriga! Mas foi o que eu fiz!
Através de publicações na internet, achei um possível local. Um espaço que, assim como eu estava começando em Aldeia. Fui sempre muito bem recebida e tratada por todos que compõem a equipe desse novo local. Foi assim que eu escolhi.
Agora para conseguir montar a sala, dar conta da minha mudança pessoal e continuar atendendo no Recife, eu tive que contar com muita ajuda dos meus familiares. Sem eles, eu com certeza não teria conseguido.
Eu nunca acho que realmente é começar do zero. Toda a experiência que eu tinha no Recife contou a meu favor. Inicialmente eu entrei em contato com as escolas para conhecer e me apresentar. Eu acho que é sempre muito importante que a gente saiba quais são e como funcionam os locais onde nossos clientes passam muito tempo na rotina.
Nesse sentido que eu liguei para escolas e propus de ir aos espaços me apresentar e conhecer melhor. Dessa forma, eu falo do meu trabalho e se a pessoa da escola, responsável pelos encaminhamentos, confiar no meu trabalho, ela pode me encaminhar.
Dessa maneira, eu estou me inserindo e passando a criar meu lugar no mundo das crianças e das suas famílias no novo lugar onde habito e trabalho.
Foi assim que eu recomecei. Confesso que estou muito satisfeita e feliz. Não foi fácil, é verdade. Mas o mais importante é que está valendo todo esforço. Espero que esse texto lhe ajude caso você esteja amadurecendo alguma mudança.
>> Texto postado no site do Revire
Data: 26/08/2019