Quando eu comecei a atuar como Psicóloga Clínica, escutei várias vezes que o tripé da Psicologia Clínica eram o estudo, a supervisão e o próprio momento do atendimento. Quando eu fui para prática, rapidamente eu percebi que envolvia mais atividades do que essas. Tinha que disponibilizar um tempo para registrar os atendimentos, fazer a agenda de atendimentos, divulgar meu trabalho e fazer a organização financeira. Foi assim então que eu percebi que a função de psicólogo clínico envolvia muito mais do que o momento do atendimento.
Apesar de atender ser a atividade mais conhecida por todos, para que se tenha uma boa qualidade no seu trabalho é necessário realizar muitas outras atividades. Se você é psicólogo clínico, você sabe que atender é apenas uma das atividades enquanto profissional, mas é a única remunerada! Então vamos lá conversar sobre como sustentar isso financeiramente.
A relação entre dinheiro e tempo é a que ganha mais evidência a cada discussão que eu proponho falar sobre organização financeira para psicólogos clínicos. Eu acho essa relação essencial de ser observada por qualquer pessoa e principalmente por nós que trabalhamos cuidando da saúde mental. São as duas coisas mais escassas na sociedade moderna.
Vamos começar então refletindo sobre a relação entre o tempo e o momento do trabalho. Em geral, durante o momento em que estamos trabalhando nós abrimos mão de escolher o que faremos com nosso tempo para estar disponível para oferecer nosso serviço de forma qualificada e humanizada para o outro. Em troca, recebemos realização, satisfação e dinheiro.
Por outro lado, quando não estamos trabalhando, estamos usufruindo de tempo livre e a possibilidade de escolher o que fazer nele. Dando atenção as nossas necessidades pessoais e cuidando de nós mesmos inclusive para conseguirmos nos manter saudáveis para nosso trabalho.
Como você pode perceber, são dois momentos de vida diferentes: um em que eu estou disponível a atender o outro e não fornecer tanta atenção e vazão as minhas necessidades e um segundo momento em que o foco está mais voltado para mim e nesse momento, geralmente, estou usufruindo dos serviços de outras pessoas ou aproveitando o tempo livre.
O que eu vejo muitas vezes acontecer? Muitas pessoas consideram apenas o momento que estão atendendo como o momento de trabalho e aí quando elas estão no momento que deveria ser delas, elas estão fazendo as outras atividades que também se referem ao seu trabalho, como estudo, curso, supervisão. Por que isso é uma coisa tão comum de acontecer? Porque muitas vezes nosso trabalho é muito prazeroso, além de nós sermos nosso próprio instrumento de trabalho e nesse caso fica difícil conseguir fazer um discernimento quando estamos trabalhando e quando estamos fazendo algo por nós.
Um assunto que tem tudo a ver com isso é a psicoterapia. Você considera ela uma atividade pessoal ou profissional? Uma coisa que eu sempre gosto de perguntar para conseguir entender isso é: você faz psicoterapia só porque é psicólogo? É lógico que isso é uma coisa muito singular e cada um pode considerar de uma forma, eu estou dizendo aqui a minha opinião! Eu sempre gosto de pensar: se o consultório fechasse, eu continuaria fazendo psicoterapia? A minha resposta para isso geralmente é sim. Enfim, é dessa forma que eu consigo separar o que é de cada âmbito.
Se a pessoa quiser sempre fazer coisas relacionadas ao seu trabalho, qual o problema? É saudável que se tenha uma diversidade de experiências na sua vida, o que eu mais tenho visto são pessoas da área de saúde, inclusive psicólogos, sem conseguir esse equilíbrio de uma forma satisfatória e acabam adoecendo, muitas vezes precisam até se afastar do trabalho por um tempo. Por isso acho super válido abordar esse tema e diagnosticar em que situação nos encontramos.
É muito importante saber qual a quantidade de trabalho que o psicólogo clínico se propõe a disponibilizar. Quem aí já se pegou sem saber colocar limite na quantidade de trabalho? Achando que nunca pode parar, achando que nunca mais vai ler um livro sem ser de psicologia, achando que todo tempo tem que estar trabalhando, com a cabeça movimentando mesmo que não esteja no consultório?
É por isso que temos que ter um autoconhecimento para termos a responsabilização da quantidade de trabalho que a gente tem. É necessário muitas vezes colocar um limite e isso é uma coisa muito difícil de se fazer mesmo porque, na maioria das vezes, as atividades que desempenhamos são muito prazerosas. Mas se a gente não coloca um limite na quantidade de trabalho a gente acaba se superlotando e muitas vezes até adoecendo ou perdendo o interesse naquilo, porque se torna uma coisa desgastante demais.
Então alcançar esse limite da quantidade é talvez o ponto mais crucial em relação a quantidade de atividade que você desempenha e o seu retorno financeiro em relação a isso. Por isso, é muito importante que você tenha um preço da sua sessão bem calculado. Precisa fazer jus a todo o tempo que você está investindo no seu trabalho para oferecê-lo de forma qualificada. Eu sei que esse limite é mais fácil de falar do que de fazer por isso resolvi finalizar esse texto de hoje com uma dica prática de como mudar sua vida em relação à quantidade de trabalho.
Exercício: Você pegue uma folha de papel e faça uma espécie de tabela. Na horizontal, coloque os horários, da hora que você acorda mais cedo até a hora que você vai dormir mais tarde. Depois preencha as verticais, colocando todo os dias da semana. Agora registre tudo que você faz por duas semanas no mínimo. Depois você vai pintando para criar categorias e tente reorganizar montando um horário em blocos. juntando as atividade semelhantes para serem realizadas todas no mesmo período.
Usar a concretude de colocar todos esses dados em uma folha de papel e conseguir visualizar faz com que você consiga perceber como está o seu equilíbrio (ou desequilíbrio) de vida e encontre rapidamente uma nova forma de fazer. Deixa de fazer parte do plano da ideia e passa a ser concreto, você consegue ver.
Espero que esse texto lhe ajude e que essa dica faça diferença para você!
>> Texto postado blog do Revire
Data: 04/12/2018