Antes mesmo de falarmos das vantagens, precisamos esclarecer um ponto que talvez não esteja tão claro assim. Está preparado? Então lá vai:
Um psicólogo clínico é um profissional autônomo!
Sim! Parece que isso é algo fácil de ser dito, mas não tão fácil de ser assimilado no dia a dia. Isso porque junto com “rótulo” de autônomo vem todas as características pertinentes a essa escolha profissional. Tendo em vista a minha experiência facilitando grupos sobre o tema, percebo que o ponto mais difícil que nós, psicólogos, enfrentamos no quesito ‘’ser autônomo” é a instabilidade financeira.
Existem outros pontos que surgem quando o assunto é ser autônomo, como lidar com a parte objetiva da profissão, ter que fazer divulgação do trabalho, entender que o consultório (ainda que pareça ser uma extensão da nossa casa) é o nosso negócio profissional, enfim, muitas e muitas outras mas acho que a característica da instabilidade financeira é suficiente para justificar em falarmos de organização financeira para psicólogo clínico. Vamos ao que interessa!
Vamos começar atravessando alguns aspectos. O primeiro deles é que quando eu falo em organizar não estou falando em planilha e nem em Excel. Não necessariamente é preciso ter uma planilha, muito pelo contrário, já existem várias formas bem mais eficazes de se organizar financeiramente. Mas algo que realmente é imprescindível é ter um registro de quanto você gasta tanto no consultório quanto na vida pessoal. Então, o primeiro ponto é saber quanto você gasta.
Qual a melhor forma de registrar os gastos? Aquela que funciona para você!
(Lembrando que aqui eu estou falando de Psicólogo clínico que não tem outra renda, que não tem outro trabalho que forneça a ele um salário fixo, aquele que realmente vive da psicologia clínica. “Ah! Então se eu tenho um outro emprego esse texto não serve para mim?” Não é isso. É que eu estou falando do profissional que tem a renda mais instável possível, se você pode contar com um salário fixo, também poderá se beneficiar do conteúdo daqui)
Agora que você já sabe quanto que você gasta, vamos começar a falar nas oscilações. A primeira delas é quando você precisa se ausentar do consultório, sendo, dessa forma, uma redução do trabalho a causa da diminuição na entrada de dinheiro.
Partindo do pressuposto de que você já sabe quanto que você gasta, uma organização financeira vai lhe permitir se preparar para quando você tira férias, por exemplo. Sempre que eu falo isso a um grupo de psicólogo clínico a primeira coisa que eu invariavelmente escuto é: “Tirar férias? Eu não tiro férias!”. Eu pergunto por quê? Nessa resposta surgem as inseguranças de se afastar muito tempo do consultório e ficar sem clientes, de não ter uma reserva para ficar um tempo sem receber pelos atendimentos no período em que estiver ausente, enfim, para todas essas respostas a organização financeira pode ajudar.
Se você não quiser tirar férias então não precisa se organizar? Precisa mesmo assim! Por quê? Bom, porque durante o ano existem os feriados como o carnaval, o natal, dia do trabalhador, e muitos outros, em que nós não trabalhamos e na vida de autônomo, quem não trabalha, não ganha dinheiro!
Além dos feriados, sempre tem aquela doença que chega sem avisar e que você precisa desmarcar um dia de atendimentos, ou dois, ou três e nem sempre é possível remarcar todo mundo. Geralmente, são esses aspectos que contribuem para a instabilidade financeira da nossa vida, porque os gastos continuam iguais e os ganhos reduzem muito.
Agora que falamos de se preparar para quando os gastos continuam iguais e entrada de dinheiro é que diminui, vamos falar da enorme vantagem que é não sofrer quando os gastos anuais chegam! Isto é, quando os gastos aumentam e geralmente a entrada também diminui porque é início de ano, férias, sabe como é, não é? Se organizar para receber a fatura do CRP, por exemplo, sem precisar sofrer, é uma enorme vantagem, não?!
Ainda falando da oscilação proveniente da entrada de dinheiro vamos falar do seu público de atendimento. Quem conhece seu público sabe que tem aquela época do ano que os horários são mais cheios e aquela época em não se tem tanta busca assim. Por exemplo, eu sou psicóloga infantil, então durante os meses de janeiro e julho sempre há uma redução dos meus atendimentos porque algumas crianças viajam, vão para casa de parentes, enfim. Existem algumas formas de organização que buscam estabilizar essa entrada para que você possa contar com o mesmo valor para suas despesas pessoais durante todo o ano.
Agora vamos ao penúltimo ponto e um dos mais polêmicos! Já falamos das oscilações de saída e de entrada de dinheiro. Agora vamos falar do parâmetro que você usa para calcular o valor da sua sessão.
Como você formula o valor da sua sessão?
Muita gente me conta que formula o valor da sessão com base em quanto as outras pessoas estão cobrando, ou unicamente com base na tabela do CRP, ou que não tem um valor fixo e quem diz quanto pode pagar é o cliente. Na minha opinião, a formulação do valor da sessão precisa levar em consideração alguns aspectos internos individuais antes de ser comparado com outras pessoas ou com a tabela. Afinal, a sua sessão, de todas as atividades que você executa para ter um bom atendimento (supervisão, curso, palestras, estudos) é a única remunerada. É necessário contemplar seus gastos tanto estruturais como profissionais e lhe fornecer um lucro de ganho pessoal.
Vamos a última vantagem de ser um psicólogo clínico organizado financeiramente que eu elenquei para o texto de hoje. Essa talvez seja a mais difícil de entender, mas na minha opinião a principal. Já pensou em ter um limite de quanto você precisa ganhar? Isso vai lhe facilitar na organização do tempo de trabalho e consequentemente em ter uma vida mais equilibrada e saudável que é meu grande objetivo escrevendo sobre esse assunto. Saber quanto você precisa trabalhar para gerar um valor suficiente de sustentar seu consultório e você (e possíveis dependentes) durante todo o ano é essencial para que você consiga saber quando pode colocar limite na quantidade de trabalho. Já pensou nisso? Ter um limite de quanto quer ganhar? Geralmente seguimos o raciocínio de que não tem limite, de quanto mais melhor, só que muitas e muitas vezes nossa vida fica completamente voltada para o trabalho e deixamos de realizá-lo de forma satisfatória, podendo inclusive adoecer. Aí veja que contradição, nós que buscamos proporcionar saúde mental e bem-estar aos nossos clientes adoecidos de tanto trabalhar.
Acredito que essas sete vantagens de se organizar financeiramente sejam suficientes para que você se motive a cuidar melhor do seu dinheiro, afinal de contas, eu acredito que quando falamos de dinheiro nunca estamos falando só de dinheiro, estamos abordando tempo, liberdade, energia, saúde, enfim, sua vida como um todo. É por essa importância que nós, psicólogos clínicos, precisamos falar sobre organização financeira.
>> Texto publicado blog do Revire
Data: 04/09/2018