Antes de começar vamos tocar num ponto básico da organização financeira do consultório: é preciso separar o orçamento profissional do pessoal! Dessa forma, de um lado será possível saber (com precisão) o quanto você gasta para manter seu consultório aberto, funcionando e sua capacidade legal de atender. Do outro lado, tendo consciência dos seus gastos pessoais, fica mais fácil saber quanto você precisa ganhar no consultório para manter a sua qualidade de vida pessoal (seu pró-labore).
Dito isso, vamos abordar quatro aspectos internos e quatro aspectos externos aos quais você deve estar atento para formular o preço que você vai cobrar pelos seus atendimentos.
Algumas pessoas acham que a primeira coisa que nós devemos observar é quanto as pessoas estão cobrando ou quanto a tabela do CRP sugere cobrar, mas eu acho que antes mesmo de fazer esses comparativos, nós devemos observar “internamente” (em nós mesmos) o que dará sustentação ao preço da nossa sessão. Nesse caso, estou chamando de aspectos internos coisas que só se referem a você e que não exigem a comparação com ninguém.
A primeira coisa que devemos estar atentos é com o quanto gastamos para manter nossa estrutura física do consultório funcionando. Lembrando que você deve incluir tudo aqui, desde a caixa de lenço até o aluguel da sala. Viu só como é essencial que você separe os orçamentos profissionais e pessoais?
Estou chamando de gasto profissional tudo aquilo que você investe profissionalmente, como por exemplo a taxa do CRP, os seus gastos com qualificação profissional, como cursos, supervisão, pós-graduação, entre outros.
Quanto você precisa ter como ganho pessoal com a atividade profissional da clínica? Esse valor pode ser menor se você estiver começando (ou recomeçando) na clínica nesse momento ou maior se você já tiver uma estrutura e responsabilidades pessoais maiores. É importante que você saiba quanto você necessita (o seu mínimo) para usar como parâmetro.
Acho que aqui vale refletir qual o seu objetivo com a psicologia clínica. Se você quer viver exclusivamente (ou prioritariamente) com essa atividade profissional, será completamente diferente de se você tiver um emprego fixo e quiser conciliar com a clínica por realização.
Como está a sua relação com o dinheiro e o quanto você se sente à vontade em cobrar aquele valor que está sendo calculado para sua sessão? Até mais, o quanto você se sente à vontade ou não para cobrar pelos seus serviços enquanto psicólogo clínico?
Percebe que em nenhum momento eu fiz nenhum comparativo com outras pessoas? Esses pontos são levantados antes de entrarmos nos aspectos externos, porque assim você já vai para o comparativo de quanto é o seu parâmetro de acordo com as suas necessidades internas.
É importante saber quanto que naquele lugar onde você atende, principalmente no que se refere à cidade e também em relação ao bairro, é cobrado normalmente. Lembrando que você não tem necessariamente que cobrar a mesma coisa, esse é apenas um de oito aspectos que eu estou sugerindo que você observe.
Agora sim chegou o momento de procurar saber quanto as pessoas estão cobrando. É importante observar o nível de qualificação que a pessoa com a qual você está se comparado tem. Esse é um ponto que inclusive ajuda no diálogo sobre dinheiro porque muitas vezes as pessoas têm receio de revelar quanto elas cobram como se estivessem fazendo algo de errado, quanto mais conversamos sobre isso, menos teremos esse tabu a respeito de dinheiro.
É muito importante observar quanto a tabela do CRP sugere que seja cobrado pelo serviço que você oferece.
É necessário observar se as pessoas que você quer que usufruam do seu serviço terão condições de pagar o preço que você está cobrando. Quem é seu público alvo? Quais são as principais características dele?
Esses aspectos dão embasamento e segurança para você conseguir cobrar com mais propriedade pelos seus serviços. Muitas vezes vejo que algumas pessoas não sentem segurança em cobrar o “preço cheio” (um modo usual de falar para representar o preço da sessão sem descontos) porque não sabem exatamente o que esse preço está representando no seu orçamento.
Acredito que depois dessa reflexão, você possa criar um embasamento maior sobre quanto você deve cobrar, se você está precisando reduzir os gastos, aumentar o preço, deixar de dar descontos, enfim, se apropriar do seu dinheiro e do consultório como sua atividade profissional de fato. Além disso, é importante que você possa observar qual o melhor momento para fazer um reajuste no preço da sua sessão e porque essa alteração de valor está acontecendo. Então, fazendo isso de modo mais apropriado você também conseguirá transparecer isso para os seus clientes na hora de avisá-los sobre o reajuste.
Concluindo, gostaria de deixar o registro de que por mais que muitas das suas atividades profissionais sejam prazerosas, elas são atividades profissionais e precisam ser remuneradas. Os momentos em que você faz curso, estuda, faz supervisão, corrige teste, faz registros dos seus atendimentos, são momentos de trabalho e precisam ser contabilizados na sua remuneração.
Tente identificar todos os tópicos que eu sugeri acima e verificar se estão compatíveis com o preço da sua sessão. Lembre-se: é preciso observar se a quantidade de horas que você tem trabalhado além do tempo do atendimento estão sendo computadas nessa remuneração.
Espero que essas dicas lhe ajudem e que você melhore sua relação com o dinheiro. Nós cuidamos das pessoas, mas também precisamos nos cuidar e para isso, muitas vezes, é preciso uma organização financeira.
>> Texto publicado blog do Revire
Data: 30/10/2018